Na edição de 2017 dos Dias da Música em Belém, o DSCH – Schostakovich Ensemble apresentará dois concertos: O CARNAVAL DOS ANIMAIS - com obras de Stravinsky e Saint-Saëns - e LA BONNE CHANSON - interpretando Brahms, Shostakovich e Fauré.
Filipe Pinto-Ribeiro, director artístico do Schostakovich Ensemble, estará acompanhado por um leque de músicos extraordinários, como o violinista canadiano Corey Cerovsek, considerado um dos maiores violinistas dos últimos 30 anos e que toca o lendário Stradivarius Millanollo que foi tocado pelo próprio Paganini; clarinetista francês Pascal Moraguès, Professor do Conserrvatório Superior de Paris e 1.º Clarinete Solo da Orquestra de Paris; a violetista alemã Isabel Charisius, Professora na Universidade de Lucerna e membro do lendário Quarteto Alban Berg; a violoncelista holandesa Quirine Viersen, vencedora de inúmeros prémios nos mais importantes concursos; a pianista luso-peruana Rosa Maria Barrantes, doutorada pelo Conservatório Tchaikovsky de Moscovo e Professora na Metropolitana de Lisboa; a violinista britânica Cerys Jones, vencedora do Gramophone Chamber Music Award 2016 como membro do Heath Quartet; o contrabaixista Tiago Pinto-Ribeiro, Professor da Universidade de Aveiro e músico da Orquestra da Casa da Música; o percussionista Abel Cardoso, membro da Orquestra Gulbenkian; a cantora israelita Hagar Sharvit, um dos mezzo-sopranos mais talentosos e promissores no panorama internacional. Destaque ainda para a colaboração do actor Pedro Lamares, que fará a narração dos textos de António Mega Ferreira para O Carnaval dos Animais, e a presença do jovem flautista francês Luc Mangholz, que obteve o 1.º Prémio de Flauta na edição de 2016 do Verão Clássico – Academia Internacional de Música de Lisboa.
Programa dos concertos:
O CARNAVAL DOS ANIMAIS, Sala Luís de Freitas Branco, 30 Abril, 13h00 [+ info]
Igor Stravinsky: A História do Soldado, Suite para violino, clarinete e piano
Camille Saint-Saëns: O Carnaval dos Animais, Grande Fantasia Zoológica
Textos: versão livre em português de António Mega Ferreira, a partir dos textos de Francis Blanche
LA BONNE CHANSON, Sala Luís de Freitas Branco, 30 Abril, 17h00 [+ info]
Johannes Brahms: Duas Canções Op. 91, para mezzo-soprano, viola e piano
Dmitri Schostakovich: Trio N.º 1 Op. 8, “Poema”
Gabriel Fauré: La Bonne Chanson Op. 61, para mezzo-soprano, 2 violinos, viola, violoncelo, contrabaixo e piano, Poemas de Paul Verlaine
DSCH – Schostakovich Ensemble
Filipe Pinto-Ribeiro, Piano e Direção Artística
Corey Cerovsek, Violino
Cerys Jones, Violino
Isabel Charisius, Viola
Quirine Viersen, Violoncelo
Tiago Pinto-Ribeiro, Contrabaixo
Pascal Moraguès, Clarinete
Rosa Maria Barrantes, Piano
Hagar Sharvit, Mezzo-soprano
Abel Cardoso, Percussão
Luc Mangholz, Flauta (1.º Prémio Flauta VERÃO CLÁSSICO 2016)
Narrador: Pedro Lamares
Notas ao programas, por Filipe Pinto-Ribeiro:
O CARNAVAL DOS ANIMAIS
O célebre Carnaval dos Animais foi composto por Camille Saint-Saëns na Áustria, em 1886, e dado em primeira audição privada na Terça-feira Gorda desse mesmo ano, em Paris. Trata-se, segundo o próprio compositor, de uma Grande Fantasia Zoológica, que inclui muitos animais, para todos os gostos e feitios, incluindo músicos! Sejam eles pianistas, a quem é dedicada uma das peças, ou compositores, vários deles parafraseados satiricamente ao longo deste Carnaval. E nem o próprio Saint-Saëns escapa, com uma paráfrase autocrítica na peça Fósseis. A obra foi composta para a esfera privada do compositor, que não consentiu a sua publicação e interpretação em pública enquanto fosse vivo, com a excepção da famosa peça O Cisne. As razões normalmente evocadas apontam para que Saint-Saëns, o maior nome da música francesa da época, tenha pretendido evitar que o conotassem com o carácter leve e humorístico da obra e fugir a juízos equívocos das suas ironias. Mas a maior ironia é que, paradoxalmente, o Carnaval dos Animais veio a tornar-se a sua obra mais famosa. Neste concerto, o Carnaval dos Animais será narrado com a versão portuguesa da autoria de António Mega Ferreira dos célebres textos que o humorista francês Francis Blanche escreveu para esta obra divertida e exuberante. A antecedê-la, teremos uma Suite extraída da famosa História do Soldado, composta por Igor Stravinsky em 1917, com textos do seu amigo Charles Ferdinand Ramuz. O argumento, de inspiração faustiana, está baseado num conto popular russo: narra a história de um soldado que se encontra com o diabo que o convence a trocar o seu violino (que representa a sua alma) por um livro que tem a virtude de prever o futuro... Stravinsky preparou em 1919 esta Suite, para violino, clarinete e piano, com cinco andamentos emblemáticos da História do Soldado, onde está refletida toda a originalidade e invenção desta obra-prima.
LA BONNE CHANSON
O ciclo de nove canções “La Bonne Chanson” ocupa um lugar cimeiro na obra de Gabriel Fauré e no maravilhoso universo da “mélodie française”. A obra é baseada em poemas do livro homónimo de Paul Verlaine. A maior parte de “La Bonne Chanson” foi composta nos Verões de 1892 e 1893, que Fauré passou em Bougival, como convidado do banqueiro Sigismond Bardac e da sua mulher, a cantora Emma Bardac, por quem Fauré se apaixonou (apesar desta vir a casar mais tarde com Claude Debussy). Fauré escreveu que “La Bonne Chanson” foi a sua composição mais espontânea, com Emma a cantar-lhe diariamente o novo material musical. Obra de grande arrojo harmónico e profunda expressividade, La Bonne Chanson não foi bem recebida na estreia em Paris pelo público musical conservador: Camille Saint-Saëns disse que Fauré tinha enlouquecido mas, em contraste, Marcel Proust escreveu que adorou. Johannes Brahms escolheu o seu instrumento de arco preferido, a viola, para enriquecer a sonoridade das belíssimas Duas Canções op. 91. A segunda “Canção de embalar sagrada” (segundo o poema “Canción de cuna sacra”, de Lope de Vega), foi composta por ocasião do baptismo do seu afilhado, filho do grande violinista Joseph Joachim e da igualmente célebre cantora Amalie Joachim, em 1864. A primeira canção, “Saudade saceada”, nasceu provavelmente só vinte anos mais tarde, no período mais tardio de criação do grande compositor alemão. Em oposição, Schostakovich compôs o Trio Opus 8 N.º 1, para piano, violino e violoncelo, que intitulou de “Poema”, com apenas 16 anos, enquanto aluno Conservatório de São Petersburgo. A génese desta obra está relacionada com circunstâncias pessoais: o Trio é dedicado a Tatiana Glivenko, que Schostakovich conheceu na Crimeia no Verão de 1923 e com quem teve a sua primeira e intensa relação amorosa, que durou até 1929. Este Trio “Poema”, um poema sem palavras, impressiona pela qualidade de composição e pela grande expressividade e lirismo do ainda muito jovem compositor russo.